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Gochisou #10

Cami Teshima e Ototo

Texto por Cami Teshima:

"Uma das minhas lembranças favoritas da infância é de viajar de carro com a família. Era de lei montar um grande bentô e dividir entre a gente no meio do caminho. 'Me passa um oniguiri', 'quero um tsukemono', 'ainda tem shogá?'. Eu gostava tanto que, aos poucos minutos de viagem, eu logo perguntava 'já podemos comer?'. Ao longo dos próximos trinta e poucos anos, viajei muitas vezes de carro, mas já há tempos, a farra do bentô foi trocada por uma ou outra parada no Graal.

 

Ser filho/neto de imigrante tem dessas. Costumes que, quando criança, você mal entende a origem, muito menos a importância de preservar. E que vão se perdendo ao longo dos anos, enquanto (consciente ou inconscientemente) embranquecemos nossa existência.

 

A comida japonesa é a principal ponte com minha ancestralidade, mas que às vezes fica difícil de acessar em meio a tantos rodízios de sushi ocidentalizados. Por isso, me foi um alívio quando descobri o Além do Sushi falando de comidas que eu amo e restaurantes que eu não sabia que as serviam. A convite deles, ilustro a comida de um desses restaurantes. O OTOTO serve um bentô que consegue ser ao mesmo tempo impecável e despretensioso, feito de ingredientes simples e muito saborosos, como um bentô deve ser.

 

Note que este tipo de refeição (bentô), por essência, tem um propósito bastante frio e pragmático: uma refeição individual, prática e rápida de comer, geralmente entre um compromisso e outro. Mas, ainda que eu aproveite meu OTOTO em total solidão, eu nunca me sinto sozinha. Imediatamente me lembro da família ao redor da mesa. Logo nas primeiras bocadas, o ímpeto de alertar minha irmã: 'você precisa provar, tem gostinho da comida da batiam'. E se tiro foto e posto nas redes, recebo mais que likes: crio trocas com outras pessoas que, só de olhar, tem suas próprias lembranças ativadas.

 

Escolho então ilustrar da forma que me sinto: rodeada de gente e de afeto, conectada com as raízes da minha família, transportada para as minhas memórias mais afetivas e ancestrais."

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